segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Luto


Faleceu nesta quarta-feira, 23/12/2009, em Nijmegen, Holanda, aos 95 anos de idade, o teólogo dominicano Edward Schillebeeck. Conhecido internacionalmente, ele é seguramente um dos teólogos mais importantes do último século, não só pela amplidão e abrangência de sua obra e pela influência de seu pensamento, mas também por ter protagonizado um modo novo de fazer teologia: ele se distingue como um dos primeiros, senão o primeiro, [entre os] teólogos dogmáticos católicos do século XX a incorporar em sua teologia o resultado dos estudos bíblicos dos dois últimos séculos.


Edward Schillebeeckx nasceu em 12 de novembro de 1914 em Antwerp, pequena cidade da Bélgica. Foi admitido na Ordem dos Dominicanos aos vinte anos. Após seu noviciado cursou filosofia em Ghent (entre 1935 e 1938) e teologia em Lovaina (entre 1939 e 1943). Foi ordenado sacerdote em agosto de 1941.
Devido a uma necessidade da Ordem Dominicana, Schillebeeckx foi direcionado para o ensino de teologia. Em função disso foi à Paris para se especializar em teologia na Faculdade Dominicana chamada Le Saulchoir , onde também freqüentou a Universidade de Sorbonne, a Escola de Estudos Superiores e o Colégio da França, instituições estaduais de forte erudição. O período em Paris (1945 – 1946) ofereceu um amplo leque de possibilidades e estímulos intelectuais, que marcou profundamente seu trabalho teológico abrindo-lhe múltiplas perspectivas de reflexão.
Em 1947, retornou à Lovaina, onde assumiu a orientação espiritual de cerca de sessenta estudantes e foi professor de teologia até o ano de 1957. Como docente de teologia, ele ensinava desde a teologia da criação até a escatologia, incluindo teologia propedêutica, sacramentos e cristologia, num ciclo de estudos que cobria quatro anos. Além destas atividades publicava artigos e também era capelão de uma prisão local. Neste período se tornou conhecido no ambiente teológico pela publicação parcial de sua tese de teologia intitulada De sacrementele heilseconomie (A economia sacramental da salvação) , a qual teve importante repercussão na teologia holandesa e para a renovação da teologia dos sacramentos.

Em 1957 Schillebeeckx foi nomeado para a Universidade Católica de Nijmegen, na Holanda, para onde se mudou em janeiro de 1958 e onde viveu até os dias de hoje. Todo este período de sua vida se caracteriza por uma intensa atividade acadêmica e intelectual e se constitui na fase mais rica e criativa de seu pensamento. O ambiente universitário possibilitou-lhe o contato com um público bastante amplo e envolvimento efetivo no debate sobre as questões teológicas mais relevantes. Passou a lecionar prioritariamente para alunos de pós-graduação e a se dedicar intensamente à pesquisa.
Schillebeeckx marcou presença intensa na vida pastoral da Igreja da Holanda. Recebeu muitos convites para conferências, palestras e aulas como professor visitante em diferentes lugares da Europa e dos Estados Unidos. Em 1960 Schillebeeckx ajudou a fundar um novo jornal de teologia em – Tijdschrif voor Theologie (Jornal de Teologia) – do qual ele se tornou seu diretor chefe. Em 1965 ele foi membro fundador do Jornal Internacional de Teologia Concilium. Participou intensamente do Concílio Vaticano II na posição oficial de conselheiro teológico do Cardeal holandês Alfrink e através de várias conferências aos Bispos, com ampla participação dos mesmos ; além disso chegou a colaborar com os trabalhos do Concílio mesmo . Entre 1966 e 1967 ele visitou duas vezes os Estados Unidos, onde se confrontou com uma secularização mais radical e teve oportunidade de conhecer teólogos como A. Dulles, H. Cox, Mc Kenzie, C. Smith e diversas Universidades e estudantes. Estas experiências marcaram uma virada decisiva no seu pensamento, determinando o início de uma nova fase de seu pensamento.
O pensamento de Schillebeeckx ao longo desse período se desdobrou em torno a três centros de interesse temáticos: interesse pela secularização e a relação Igreja-Mundo -1958-1966; interesse hermenêutico-crítico - 1967 – 1971; interesse cristológico - 1972 – 1984. Tornou-se conhecido nos ambientes teológicos e eclesiais em escala mundial particularmente por suas duas volumosas obras de cristologia-soteriologia: Jesus, a história de um vivente (1974) e Cristo e os Cristãos (1977).

Neste último período foram movidos pela Sagrada Congregação para Doutrina três processos de investigação sobre suas idéias (1968, 1976 e 1981). Todos eles foram concluídos sem nenhuma condenação de suas idéias, mas estes fatos revelam que desde os anos sessenta seu pensamento estava sob a suspeita de alguns setores da Igreja.
Ele se afastou da Universidade em setembro de 1982 e desde então continuou atuando na Igreja católica da Holanda e publicando suas pesquisas. Ele também continuou como editor da Revista Concilium.
Schillebeeckx foi um homem que desde cedo se habituou a posicionar-se pessoalmente e de modo crítico diante de situações de vida e problemas que se lhe foram apresentando. Toda sua vida de teólogo se caracteriza por uma grande capacidade de estudo e pesquisa, de confronto crítico e de diálogo com diferentes linhas de pensamento, não só da teologia, mas também de outras áreas de estudo. Assumindo como principal interlocutor o ser humano secularizado do século XX, seu pensamento se caracteriza por um conhecimento sério, profundo e sempre atualizado das questões candentes que interpelam a teologia e a fé cristã, e das diferentes correntes de pensamento que se desenvolvem ao lado da teologia e, com isto, pela interdisciplinaridade. Foi um teólogo ardoroso, profundamente envolvido com as questões eclesiais e pastorais contemporâneas; um homem de ação, profundamente engajado nas questões humanas de seu tempo e comprometido com os problemas humanos concretos.

Ele é seguramente um dos teólogos mais importantes do último século não só pela amplidão e abrangência de sua obra, mas pela influência de seu pensamento e por ter protagonizado um modo novo de fazer teologia: ele se distingue como um dos primeiros, senão o primeiro, teólogos dogmáticos católicos do século XX a incorporar em sua teologia o resultado dos estudos bíblicos dos dois últimos séculos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Liberdade?!


Um dos mestres de espiritualidade mais lidos da nossa época, o padre Varillon nasceu na França e entrou para a Companhia de Jesus em 1930. Participou ativamente da resistência ao nazismo durante a ocupação da França, tornando-se em seguida professor de jovens jesuítas, conferencista muito solicitado e pregador de retiros. Profundamente interessado em questões artísticas, citava sempre Claudel e Wagner (depois de Fénelon)como motivos de inspiração constante. O trecho seguinte foi extraído de um de seus livros mais conhecidos, "A humildade de Deus".

"Deus respeita de modo absoluto a liberdade do ser humano. Ele a criou, e não foi para petrificá-la, ou violentá-la. É por isso que ele jamais grita, nem impõe. Ele sugere, propõe, convida. Ele não diz "Eu quero", mas "Se tu quiseres ... " Expressões como "os mandamentos de Deus" ou "a vontade de Deus" devem, assim, ser tomadas com cuidado, e compreendidas segundo o amor. Deus não repreende: ele deixa esse cuidado à nossa consciência. "Ele é maior que o nosso coração", diz são João na sua primeira carta. Ele fica escondido para não se tornar irresistível.. A sua invisibilidade é uma forma de pudor".

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

QUASE NINGUÉM MAIS SUPORTA O EVANGELHO!


— uma resposta a quem se sentir respondido...

Meu exercício mental tem sido [entre tantos outros que faço...] o de ler as Escrituras apenas a partir de Jesus; deixando de fora todas as pré-compreensões estabelecidas pela Religião Cristã; especialmente no que tange às suas Institutas ou Dogmas; quase todos nascidos da e na Igreja de Constantino; não do e no Evangelho...

Sim, leio tudo que houve [...] antes e depois de Jesus somente a partir de Jesus...

Alguém pergunta: E qual a importância disso?...
Ora, eu respondo...

Este é Santo Graal que os cristãos não querem achar; este é o Código da Bíblia que os judeus se recusam a admitir; este é o Sol que os humanos fazem guerra para apagar; este é o Caminho do Verbo na vida humana que Satanás mata e morre para destruir!...

O olhar que se adquire de tal modo de ver tudo a partir de Jesus do modo mais simples possível, nos leva inapelavelmente para uma desconstrução profunda, e, sem exagero no dizer: desconstrução total de tudo e de todas as coisas...

O mundo acaba!...

Afinal, foi Jesus Quem disse que aquilo que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus!


Assim, por exemplo, em Jesus vejo que o mundo jaz no mal, que tem um Príncipe [com o qual Jesus diz não ter nada a ver... ou a tratar...]; que originalmente o mundo era um campo de trigo, mas que foi infiltrado de joio; que os melhores homens, os que sabem dar boas coisas aos seus filhos, ainda assim são maus; que a geração que O cercava era incrédula e perversa [assim como todas as demais...]; que os líderes da Religião eram os mais caídos entre os caídos; que a presunção de “saúde” dada pela Lei, pela Moral ou pela Ética — criava a pior de todas as quedas...; que quem comete pecado [e que não comete?...] era escravo do pecado; que o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido; que há “perdidos” menos perdidos, pois se sabem perdidos; e que há perdidos mais perdidos que os “perdidos”, porque se julgam achados e sabedores do caminho para outros [...]; que só Deus sabe quem é de Deus, assim como na história do Samaritano Bom somente Deus veria tal bondade redentora [posto que o preconceito não permitisse que os judeus vissem graça de Deus onde só havia ódio e preconceito humano]; que o juízo de Deus separa os homens como um Pastor separa os cabritos das ovelhas; que o critério de tal juízo não será religioso, mas apenas centrado em atos de amor, a fim de justificar, e em atos de maldade ou de omissão, a fim de condenar; que a humanidade seguirá firme em seu caminho para a morte; que nada acordará os humanos no curso da História; que somente a Calamidade Final trará Luz ao entendimento humano; que os governos e poderes deste mundo não realizarão nenhuma Paz duradoura; que a vocação homicida e suicida dos humanos os levará a um encurralamento sem saída ou solução; que o final será marcado por desordens naturais, por assombrações inexplicáveis, por fenômenos apavorantes, por perspectivas aterradoras, pelo divisar de um futuro de morte; e, sobretudo, por se buscar na evasão [...] a solução [...], já que no Planeta não haverá esconderijo...

Desse modo, o que se vê em Jesus é a afirmação de que a humanidade se fará mal até ao fim...

Ora, para alguns tal vaticínio parece ser negativo... Para mim, entretanto, ele é apenas realista na verdade que não disfarça...
Jesus não chamou isto de Queda, mas de Morte...

Sim, por isto Ele disse que os cidadãos das falsas esperanças deste mundo eram como mortos; daí Ele mandar os que os mortos deste mundo sepultassem seus próprios mortos, assim como os soldados da batalha inglória devem pelo menos sepultar os mortos no mesmo campo de guerras de insanidades...

E mais: quando se lê e interpreta tudo a partir de Jesus, nenhuma religião, filosofia, sistema de governo, ou as ilusões das virtudes humanas — ficam em pé!...

O modo como Ele tratou o mundo dos sistemas humanos, seus governos, Direitos, Leis, Poderes, e Presunções..., sim, Seu modo de ver e interpretar o mundo dos homens sempre indicou a total falta de esperança de Jesus no homem como criatura capaz da paz e da justiça que logo não se corrompam...

Daí Ele dizer que o Seu reino não é deste mundo, não tem uma geografia-política e nem tampouco possui uma manifestação fora dos atos que emanem de corações; de tal modo que Ele disse que não se deveria buscar o reino de Deus aqui, ali ou acolá..., mas apenas dentro do coração.

Todas as questões que animam nossos debates de mortos para mortos não estavam presentes em Jesus...

Ele nunca se ocupou das Religiões do mundo; nem dos sistemas de poder do mundo [apenas disse: “Entre vós não é como entre eles”...]; nem se empolgou com as ofertas temporárias de paz interesseira; nem mesmo propôs que Seus discípulos tivessem a ambição de tomar o poder que Ele mesmo rejeitara possuir [“tudo isto ti darei...”] pela via mundana ou mesmo por qualquer via [...], posto que se esse fosse o caso Ele mesmo teria se curvado ante o Príncipe deste Mundo...

Para Jesus, questões como a separação entre Estado e Igreja, seriam como uma anedota [...], posto que para Ele tal coisa não devesse ser nem mesmo uma questão [...], quanto mais uma proposta [...] ou um dilema...

Para Jesus [...] a Sua Igreja era e é no mundo apenas sal e luz; e nada mais... Sim, deveria ser uma assembléia de escravos de todos, de servos de todos, de Filhos do Homem em pleno serviço de graça no mundo...

Sim, quase todos os temas de nossas angustias cristãs não tiveram espaço em Jesus...

Nós, entretanto, não sabemos mais fazer a diferença; visto termos nos tornado tão discípulos do Mundo/Igreja e da Igreja/Mundo [...] que a simples alusão ao que em Jesus é tão simples como a Luz [...] causa desconforto na maioria [...].
Fico vendo, de um lado, as angustias dos filhos do Cristianismo aflito, com medo de que os poderes que lhes foram dados pelo Imperador Constantino lhes não lhes sejam garantidos até ao fim... De outro lado vejo os que querem assumir de modo explicito os poderes de domínio do Império Romano Cristão na Terra...

Os 1º estão na defensiva, com medo de tudo...
Já os do 2º grupo estão em pleno processo de “Cruzada” político/religiosa contra os infiéis...

Jesus chora por eles como chorou sobre Jerusalém...
Sim, “pois isto agora lhes está oculto”...

O Véu ainda não saiu de seus rostos, visto que esconda a desvanecência de suas faces sem a semelhança de Jesus [...], porém, semelhantissima à de Constantino.

Enquanto isto... [aqui e ali] recebo ofensas por dizer apenas aquilo que vejo em Jesus e nada do que não vejo em Jesus!

Jesus, apenas Jesus [...]; sim, Jesus, puro e simples [...] — se tornou insuportável para os ouvidos dos senhores do Cristianismo: os clérigos, os sacerdotes, os bispos, os Dons isto e aquilo, etc...

Eu, todavia, me entristeço com a cegueira deles, ao mesmo tempo em que me encho de ternura misericordiosa...

Nada se pode esperar de quem não sabe se serve apenas ao Evangelho, vendo tudo somente em Jesus e a partir de Jesus, amando a Palavra da Vida, que, em sua simplicidade, destrói tudo aquilo que se tem cultuado como “Deus”, “Jesus” e “Evangelho” — ou se serve a um hibrido de produção humana que se batizou com o nome de “Cristianismo”.

Os que coxeiam entre tais inexistentes alternativas, segundo a radicalidade do Evangelho — tornam-se apenas Estatuas falantes do antigo Império Romano vestido de Cristianismo.

A Antiga Serpente não apenas enganou Eva e Adão, mas Abraão, Davi, Salomão [...], todos os reis de Israel, os Judeus, os Cristãos, o Cristianismo, o Protestantismo, o mundo todo [...]; e, em especial, segue enganando a todos que se impressionem mais com as possíveis glórias cristãs ou ameaças aos cristãos, do que com a perversão que nos trouxe à “preocupações” tão distantes de Jesus e do Evangelho...

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça; e quem puder discernir, discirna...

Nele, que diz como as coisas são, e que manda que Seus discípulos lavem os olhos a fim de verem tudo como Ele manda que se veja, interprete e decida,

Por Caio Fabio

Hé..., uma pena compatilhar estes sentimentos, Senhor dai-nos forças...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Jardim


Um amigo me disse que o poeta Mallarmé tinha o sonho de escrever um poema de uma palavra só. Ele buscava uma única palavra que contivesse o mundo. T.S. Eliot no seu poema O Rochedo tem um verso que diz que temos "conhecimento de palavras e ignorância da Palavra". A poesia é uma busca da Palavra essencial, a mais profunda, aquela da qual nasce o universo. Eu acho que Deus, ao criar o universo, pensava numa única palavra: Jardim! Jardim é a imagem de beleza, harmonia, amor, felicidade. Se me fosse dado dizer uma última palavra, uma única palavra, Jardim seria a palavra que eu diria."(Clique aqui para você ler um texto sobre jardins)

Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma... Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas... São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia.



O terreno ficava ao lado da minha casa, apertada, sem espaço, entre muros. Era baldio, cheio de lixo, mato, espinhos, garrafas quebradas, latas enferrujadas, lugar onde moravam assustadoras ratazanas que, vez por outra, nos visitavam. Quando o sonho apertava eu encostava a escada no muro e ficava espiando.

Eu não acreditava que meu sonho pudesse ser realizado. E até andei procurando uma outra casa para onde me mudar, pois constava que outros tinham planos diferentes para aquele terreno onde viviam os meus sonhos. E se o sonho dos outros se realizasse, eu ficaria como pássaro engaiolado, espremido entre dois muros, condenado à infelicidade.

Mas um dia o inesperado aconteceu. O terreno ficou meu. O meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu.

Não chamei paisagista. Paisagistas são especialistas em jardins bonitos. Mas não era isto que eu queria. Queria um jardim que falasse. Pois você não sabe que os jardins falam? Quem diz isto é o Guimarães Rosa: "São muitos e milhões de jardins, e todos os jardins se falam. Os pássaros dos ventos do céu - constantes trazem recados. Você ainda não sabe. Sempre à beira do mais belo. Este é o Jardim da Evanira. Pode haver, no mesmo agora, outro, um grande jardim com meninas. Onde uma Meninazinha, banguelinha, brinca de se fazer Fada... Um dia você terá saudades... Vocês, então, saberão..." É preciso ter saudades para saber. Somente quem tem saudades entende os recados dos jardins. Não chamei um paisagista porque, por competente que fosse, ele não podia ouvir os recados que eu ouvia. As saudades dele não eram as saudades minhas. Até que ele poderia fazer um jardim mais bonito que o meu. Paisagistas são especialistas em estética: tomam as cores e as formas e constróem cenários com as plantas no espaço exterior. A natureza revela então a sua exuberância num desperdício que transborda em variações que não se esgotam nunca, em perfumes que penetram o corpo por canais invisíveis, em ruídos de fontes ou folhas... O jardim é um agrado no corpo. Nele a natureza se revela amante... E como é bom!

Mas não era bem isto que eu queria. Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que existia dentro de mim como saudade. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora; era a poética dos espaços de dentro. Eu queria fazer ressuscitar o encanto de jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas. Em busca do tempo perdido... Uma pessoa, comentando este meu jeito de ser, escreveu: "Coitado do Rubem! Ficou melancólico. Dele não mais se pode esperar coisa alguma..." Não entendeu. Pois melancolia é justamente o oposto: ficar chorando as alegrias perdidas, num luto permanente, sem a esperança de que elas possam ser de novo criadas. Aceitar como palavra final o veredicto da realidade, do terreno baldio, do deserto. Saudade é a dor que se sente quando se percebe a distância que existe entre o sonho e a realidade. Mais do que isto: é compreender que a felicidade só voltará quando a realidade for transformada pelo sonho, quando o sonho se transformar em realidade. Entendem agora por que um paisagista seria inútil? Para fazer o meu jardim ele teria que ser capaz de sonhar os meus sonhos...

Sonho com um jardim. Todos sonham com um jardim. Em cada corpo, um Paraíso que espera... Nada me horroriza mais que os filmes de ficção científica onde a vida acontece em meio aos metais, à eletrônica, nas naves espaciais que navegam pelos espaços siderais vazios... E fico a me perguntar sobre a perturbação que levou aqueles homens a abandonar as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas... Com certeza um demônio qualquer fez com que se esquecessem dos sonhos fundamentais da humanidade. Com certeza seu mundo interior ficou também metálico, eletrônico, sideral e vazio... E com isto, a esperança do Paraíso se perdeu. Pois, como o disse o místico medieval Angelus Silésius:


Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar.

Este pequeno poema de Cecília Meireles me encanta, é o resumo de uma cosmologia, uma teologia condensada, a revelação do nosso lugar e do nosso destino:

"No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, urna violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de urna borboleta."

Metáfora: somos a borboleta. Nosso mundo, destino, um jardim. Resumo de uma utopia. Programa para uma política. Pois política é isto: a arte da jardinagem aplicada ao mundo inteiro. Todo político deveria ser jardineiro. Ou, quem sabe, o contrário: todo jardineiro deveria ser político. Pois existe apenas um programa político digno de consideração. E ele pode ser resumido nas palavras de Bachelard: "O universo tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso." (O retorno eterno, p 65).

POR: Rubens Alves


Hó Senhor, conceda-nos a Sensibilidade para apreciarmos as maravilhas que nos concedestes

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Religião e secularização

Li Orhan Pamuk, Nobel de Literatura em 2006. Ele me fez pensar nas abrangentes implicações da secularização, na força da religião, e especialmente no significado de um Estado laico. Considerando correto que religioso e secular são os dois extremos da civilização, Deus não tem vez nem voz no mundo secularizado, o que explica ou justifica (ou explica mas não justifica) o Estado laico.

Houve um tempo quando a religião dava as cartas do processo civilizatório, tanto no ocidente cristão quanto no oriente islâmico. O advento da secularização destronou a religião e assumiu o controle da vida em sociedade. Desde então a religião passou a ser encarada como questão de foro íntimo, não poucas vezes associada à ignorância, alienação, superstição, infantilidade e primitivismo.

O Estado laico implica a postura ateísta, isto é, Deus não pode ser invocado como argumento em questões de ciência e legislação. A partir desta premissa, a coisa pública–res-pública–república, busca sua sustentação em fundamentos não religiosos.

A princípio, parece lógico e justo. Caso o aspecto religioso fosse levado em consideração para a norma científica e a legislação da sociedade, assistiríamos o digladiar das diversas tradições religiosas pela primazia do arbítrio da vida coletiva, isto é, cada tradição religiosa tentaria anular as outras e impor sua perspectiva como única verdade – o que, aliás, se tem visto hoje em dia. O conflito entre as potências ocidentais e orientais no mundo moderno (ou pós-moderno) é menos econômico e geopolítico do que religioso e de civilizações. Nesse sentido, os que defendem o estado laico, onde a religião ocupa espaço pessoal e privativo e não pode ser invocada para a coisa pública parecem ter mesmo razão.

Mas há o outro lado da moeda. Alijar a religião do processo social implica calar a voz de significativo número de cidadãos, e, nesse caso, o laicismo do Estado passa a conspirar contra um dos alicerces da opção republicana, a saber, a liberdade das consciências individuais. Também ocorre que o Estado perde riquezas próprias das diferentes dimensões da sabedoria e da verdade, notadamente as dimensões inerentes aos saberes não racionais (diferente de “irracionais”). O equilíbrio do Estado não está na inexistência de conflitos, mas na igualdade de direitos das forças que o constituem. Isso explica porque as repúblicas seculares são tão radicais quanto os estados baseados no fundamentalismo religioso: todo aquele que insiste em calar vozes perde o direito de falar, e quem perde o direito a alguma coisa e ainda continua a exercê-lo, o faz pela força, de modo que sua autoridade se torna ilegítima e deve ser resistida.

Tanto a secularização quanto o fundamentalismo religioso conspiram contra a liberdade. Este é um tempo, portanto, de uma melhor definição de Estado laico. Não mais aquele onde a religião está ausente, mas aquele onde todas as religiões têm iguais e garantidos direitos, e aceitam participar do jogo democrático, respeitadas as regras do jogo, e mediante o acordo tácito de uma vez no poder, preservar os direitos dos discordantes. Isso sim é utopia. Isso sim é ser republicano. Ou democrata. Como queira. Isso sim é ser religioso (no sentido subjetivo). Ou secular (no sentido objetivo). Como queira.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Relação

..."Quem espera o melhor com a intervenção de Deus Onipotente, Oniciente, Onipresente acaba se frustando e sucubindo a culpa ou incredulidade, quem espera ser uma pessoa melhor e andar em comunhão com Deus, numa Relação de Amor e Liberdade, e desfrutando sua presença e doce compania é capaz de enfrentar a vida, qualquer que seja ela."

POR: Ricardo Gondim

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Manifestos!?


Atualmente há um enorme contingente de Cristãos neutros que estão sem tempo para leitura, pergunta-se hoje o que a igreja precisa para formar Varões perfeitos perante Jesus? Baseado em Efésios, acredito que muitos fatores poderiam contribuir para tal Fato, porém precisamos nas igrejas de "pensadores Cristãos.

Não àqueles que indagam, rebeliam-se, conspiram, mas áqueles pensadores Ávidos por Reflexão bíblica, que já não se contentam por tanta superficialidade bíblica, sensos comum, Repetições ou chavões.

Sorrisos aparecem nos lábios dele, não de felicidade, de Ironia...."Abram suas Bíblias no livro......você será impactado hoje....olhe para seu irmão..." Mais um sermão Carregado de repetições, chavões, senso comum, ideologia Evangélica brasileira...a pergunta é...Quando haverá um Sermão de qualidade nos púlpitos brasileiros???

Estamos já, inchados com a frustação de ver pregadores com reflexão superficial, e talvez nem entendam sua importância, a Reflexão, pois apenas dizem: é pecado.
É notoriamente mais cômodo formar ouvintes e discipulos conformados ao invéz de reflexivos, assim ninguém refletirá sobre a devasta destruição de vidas que causa a Religiosidade.

O evangelho não precisa de Religiosos que fincam suas bandeiras ao chão travando "guerras" e "defendendo" sua Religião, ah....isto é tão Comum. Precisa de homens e mulheres que estejam com o coração inflamados de amor, que possam testemunhar com o silêncio a paz, a santidade, a mansidão e a benevolência.
A atitude é a maior pregadora na vida de um Cristão.

Hó Senhor, ensina-nos teus principios para que possamos testemunhar com nossos atos..

POR:Jackson Poeta aprendiz

sábado, 24 de outubro de 2009

...Reflexões...

Loucuras sobre os "Saberes Evangélicos" apenas nos trazem mais aflições, em meio a tantas. Ligado às Reflexões, quero livrar-me as "regras" que os "púlpitos" me prendem, quero ler poesias, refletir, ouvir, conversar, apreciar, degustar, sentir as Escrituras e sua beleza em minha alma...

Sinto que os quatro evangelhos que iniciam o Novo Testamento em nossas Bíblias foram banidos e exilados para longe das tribunas em nossa contemporaneidade evangélica brasileira.

Cadê Mateus, Marcos, Lucas e Principalmente João, aonde estará o quarteto Evangelista nas Igrejas, as mensagens focaram seus olhares ao "EGO"....ou...ao esdruxulo pensamento "egoista'....

Tenho medo de continuar, pois sei que tais pensamentos poderá trazer-me inquietudes que destruirá meus parapeitos. Resta-me ainda a Boca ao Pó...


Por: Jackson Poeta aprendiz

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

REFLEXÃO E MORTE




Perguntara-me um aluno, nessas tardes que se desvaneiam por aí:qual dos poetas que você mais gosta ou mais se identifica?
"Pergunta Impertinente devido a sua dificuldade" Pensei, já que....gosto de alguns...como Castro Alves, Fernando Pessoa, Drumond, Manuel Bandeira...e tantos outros...Porém, indetifico-me com Gregório de Matos.

Poeta Barroco, que pertencia a Elite, a Sociedade, a Religião, mas...não se conformava com ela. Percebe-se que a luta contra a hipocrisia permanece desde os primórdios, identifico-me com ele, pois também não me contento com a sociedade, a Elite e DESDENHO a Religiosidade e a Hipocresia dentro das igrejas.

Gregório, pertencia à alta sociedade e é através dela que lança seu olhar crítico sobre os desmandos e irregularidades da aristocracia, sobre a hipocrisia dos clérigos e sobre questões mais reflexivas como religiosidade e amor.

Apaixonei-me pelo "Poeta" quando deparei com seu poema que ilustra sua experiência existencial, extrapolando, assim, as suas primeiras motivações poéticas e alcançando uma dimensão muito mais filosófica e reflexiva.


— DA INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos

O poeta, demonstra aguda consciência da efemeridade da existência e da passagem do tempo ao falar sobre a brevidade das coisas do mundo. O Sol pode ser entendido como uma metáfora da vida, que mesmo bela, se acaba em tristeza. A permanência das coisas excedem o nosso tempo, mas nossas vidas são breves.

Apenas percebo que devemos desfrutar nossos momentos,... por quais caminhos?! Ao lado do Senhor, pois há Semelhança com as Escrituras.
"Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo. Seca-se a erva, e cai a flor, soprando nela o Espírito do SENHOR. Na verdade o povo é erva.(IS 40.6-7).
A vida é breve como a flor que nasce na manhã e morre ao Raiar do sol. Convém que estejamos ao lado do senhor Jesus...

hó, Senhor dê-me sabedoria para que possa desfrutar a minha vida ao seu Lado, e sempre permanecer em seus caminhos!

POR: Jackson Poeta Aprendiz

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Um Coração Poético


Nessas noites de Domingo aleitoriamen te pego-me refletindo sobre a Superficialidade das mensagens pregadas em cima dos Púlpitos nas igrejas Evangélicas brasileiras. Apenas fazem-me lembrar as FOLHAS SECAS caídas e arrastadas pelo vento, pois nelas já não existem mais vida e por isso, diga-se de passagem, são Inúteis.
São....ou não....Semelhante aos tempos de Escuridão da idade média, sempre os chavões escravistas "entrelaçados" com a Religiosidade que apenas mata o Cristão arrancando-lhe sua Liberdade em Cristo Jesus. Bem sabia os Trovadores da Idade Média, receio que este fato não tenha mudado conforme alguns dizem!

A "Farsa" está dentro dos corações de alguns que se dizem "bons" e infelizmente estão camuflados no meio dos nossos Pastores, mas disto advertiu-nos o Apóstolo Pedro em sua Epistola(II PD 2.1-22)...esses querem apenas glória por suas "filosofias" ou "teologias"..e dizem-se "pregadores". Porém é licito dizer que ao nosso Prisma, podemos perceber que tanta Filosofia ou Teologia apenas Seca nosso Espírito pelo desejo na Palavra de Deus.

Este desejo parte do Coração Poético de Deus e sensibiliza nossos sentidos para que possamos ouvir o desejo do Maior Poeta de todos os tempos, é virtuoso o homem ansiar o conhecimento da Filosofia ou da Teologia. Porém antes de querer ser um estudioso como Teólogo, ou filósofo descobri com Deus que precisamos ser poetas também. Por que Deus é poeta, porque gosta de comunicar-se com versos e metáforas.

Sua linguagem, carregada de símbolos, é hermética, misteriosa, para o coração cru. Para entendê-lo, precisa-se de ouvidos espirituais, sensíveis ao êxtase transcendental. Quando Deus declama o universo baila. Os olhos de Deus procuram homens e mulheres que se disponham a encarnar seus sentimentos. Todo homem foi chamado mas só os poetas podem ouvi-lo. Porque seu compromisso é com a vida, com o amor, com as relações.

Deus é o Criador dessas belezas, Javé levanta homens e mulheres que se indignam com a sordidez, mas apaixonados com o sublime, com o belo. Portanto, toda linguagem poética é profecia. Sua vocação sangra no texto, a expressão rítmica do coração de Deus vaza na tinta de sua pena.

O poeta pressente o que deveria ser, mas não é; vê-se compelido a re-encantar os desanimados, a curar os desesperançados, a destilar beleza de mundos imaginários em terras áridas.A matéria prima do poeta é a palavra. Como um artesão de cristais, o poeta maneja as palavras de maneira simples, mas com delicadeza mágica. Ele deseja mostrar que o cotidiano, com suas contradições perversas, poderia seguir outra estrada.

O poeta se despeja no texto como óleo perfumado, faz-se lenho do fogo que aquece a história. Desejoso de trazer os extremos numa síntese que promova o bem, não esquece que o único absoluto é o amor, que o único bem é vida e que o único alvo é a valorização do instante. Os Poetas rejeitam redomas, estufas, viveiros, gaiolas. Eles trocam os tapetes pelo chão batido. Solitários, só obedecem o compasso do próprio coração; indomáveis, revoltam-se com o ordinário; irrequietos, perturbam o normal e fazem concretizar em seus corações a poesia, a principal delas, a mais importante, a mais sublime, a mais bela....... A Palavra de Deus.

Que minhas orações sejam: Deus, transforme o meu coração em um coração poético.

POR: Jackson Poeta Aprendiz

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

The God Delusion



Meu mais recente esforço de fé não é do tipo intelectual. Eu realmente não faço mais isso. Mais cedo ou mais tarde você simplesmente descobre que há alguns caras que não acreditam em Deus e podem provar que ele não existe e alguns outros caras que acreditam em Deus e podem provar que ele existe - e a esse ponto a discussão já deixou há muito de ser sobre Deus e passou a ser sobre quem é mais inteligente; honestamente, não estou interessado nisso.

POR: Donald Miller



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Donald Miller é autor de Fé em Deus e pé na tábua, e Como os pinguins me ajudaram a entender Deus, ambos publicados pela Thomas Nelson Brasil.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Dias e dias


Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? – Jesus Cristo.

Tem dias que as palavras não se completam, as frases acabam com reticências e os parágrafos perdem sentido. A gente sente uma ponta de melancolia espetando a alma. A banalidade de viver nos agride logo que tocamos o chão com os pés sonâmbulos.

Tem dias que olhamos a alvorada pela janela e engasgamos com o descaso do tempo. Escovamos os dentes, repetindo com movimentos circulares, a mesma rotina de décadas; vestimos a camisa que ainda guarda o cheiro do ferro quente; cadenciamos os passos e não notamos o vai-e-vem da maré que nos devora aos poucos.

Tem dias que assumimos nossa desvalia. Sabemos, sem jamais admitir, que todos os esforços são inúteis, todas as lágrimas, desnecessárias, todas as palavras, vãs. Só a inércia nos tange adiante. Obedecemos ao dever de sobreviver sem saber o porquê.

Tem dias que acordamos e a cabeça lateja - enxaqueca existencial. Levantamos, os postes ainda iluminam as ruas, mas não os valorizamos; eles são incapazes de clarear a nossa alma. Todos os sons parecem exagerados. Todas as cores, de mau gosto. Todos os gestos, plásticos. Perdemos o paladar. Recusamos a distração. Descartamos os conselhos. Preferimos o silêncio. Buscamos o deserto.

Nesses dias, lembramos o colo primordial, que nos embalou com afeto; o rosto meigo, que nos elegeu únicos; o berço emadeirado, que nos protegeu de quedas.

Nesses dias, ficamos atentos para a inclemente cronicidade da existência. Intuimos que só os solilóquios transformam a vaga e doce tristeza em saudade. Só a solidão converte a melancolia em nostalgia. Trágicos, aprendemos a nossa impotência. Abatidos, abandonamos os fingimentos de nossas coreografias mal ensaiadas. Sedentos, ansiamos que Alguém nos dê água viva.

"óh Senhor sacia nossa sede, e nos dê o alivio que precisamos à nossa alma"
POR: Ricardo Gondim

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Olhares para a Dúvida



A Genes participa na Fé?
Perguntas sondam o homem aprendiz de si mesmo, e até o Pastor mais Fervoroso que você conhece.
Deparei-me com a pergunta de um aprendiz, "Deus o condenaria se Tivesse dúvidas"


O mais Tradicional se apoiaria nos versiculos mais "pesados" e "diretos", Sem fé é impossivel agradar a Deus, ora, quem poderia discutir tal fato. Mas a pequena palavra de poucas letras sondam na vida de todos, ou, alguns longe "dela" fixam-se nas igrejas apenas por Religiosidade? Eis mais uma dúvida. A dúvida persegue o Homem mais religioso e espiritual que existir, até porque acredita-se que essas palavras não são sinônimos. A esfera religiosa não permite o menor índice de Dúvida, (creia cegamente), porém em contrapartida, digo que a dúvida é natural, Poderíamos citar homens que tiveram dúvidas, e esses foram grandes homens na cronologia Bíblica.
A dúvida precede a fé, e até mesmo é um requisito para se ter fé, o homem "neutro" nunca possuirá fé, pois ele não crê e nem descrê. Apenas Neutro, aceita todas as Crenças" é um poliglota religioso!

Mas o grande duvidoso, é um inteligente, não aceita qualquer afirmação, ele vai atrás, procura as fontes, é um revolucionário, não é um conformista, não vai pelo senso-comum, e por último, por incrivel que pareça é aquele que terá mais fé.
Não acredito na fé Inocente, a fé é inteligente, sei que muita coisa se diz sobre A Fé, Homens levanta-se e caem devido a Fé, Teólogos de toda a parte dizem sobre ela, e os filósofos, discutem se essencial!

Porém O que Deus criou? Um homem extremamente inteligente, capaz de evoluir tecnologicamente e culturalmente, não creio que a Fé seja o oposto à inteligência, eles devem andar interligados, hoje diferente dos tempos do apostolo Paulo que vivera dias de Anti-Cristianismo, vivemos dias de Pós-Cristianismo.
No Brasil estima-se que os evangélicos crescem cerca de 80% , e temos cada vez mais nos programas Brasileiros uma gama de Evangélicos, vivemos entre eles, e somos diferentes dos nossos antecessores de duas décadas atrás e de dois séculos atrás.

O que estou dizendo? Em meio a tantas 'linhas" evangélicas a fé torna-se inconstante, porque é mais fácil ter apenas um apostolo Paulo dizendo nossas doutrinas e nossos Credos, em contraste com os tempos Contemporaneos, que temos muitos "apostolos" que dizem o que seguir e o que fazer, suas idéias são fanáticas, percursivas, utópicas, regionais, tendenciosas e acima de tudo Religiosas, nada Cristãs.
Não quero me limitar apenas ao Brasil, mas ao mundo inteiro, quantas linhas e Ramificações Evangélicas e Teológicas se têm hoje?

Hoje a fé precisa ser inteligente e Sã, o Apostolo disse para que sejamos Sóbrios e sãos( I TIM 3.2), isso não faz parte da inteligência?
A dúvida hoje em nossa era e em nossos tempos é valorizado pelo mundo capitalista e globalizado, ela também foi algo importantissimo para que nos evoluissimos como seres culturais, ela foi criada por Deus pela inteligência, porém é usada pelo MAL, para colocar o Homem Sábio contra Deus, mas Falara Salomão e Jó, "o principio da sabedoria é o Temor a Deus". Disse ao jovem, sua dúvida é normal, a duvida é normal do homem, ela anda lado a lado com a fé, pois ambas andam e dependem de si mesmos, mas o que o pregador irá dizer? O que diz a bíblia, claro e é tão bom, porém não se pode condenar um homem, devido suas dúvidas.

Pois se Enxerga na Dúvida uma oportunidade de se buscar a fé, como o cientista que na dúvida busca o conhecimento da origem do fenõmeno natural, e hoje essa explicação é aceita pelos Homens Cristãos. Foi na dúvida de Pedro ao andar pelas águas que conhecera o verdadeiro poder do Filho de Deus, Jesus, e quando ele quer operar não existe dúvida que o impeça, pois para ele nada é impossivel. Lembre-se que Zacarias duvidou e ficou mudo, José, 'pai" de Jesus também, mas não impediu de Jesus vir ao mundo e nem João Batista. É nesses momentos que ela torna-se um portão para a Fé chegar, hoje os jovens são duvidosos, amanhã eles tocarão os Céus com suas fé, Deus Criara o SER com essas ambivalências, dúvida e Fé, porque?
Há utilidades em ambas e nenhum sentimento humano é vão, pois nos diferencia dos seres Irracionais, indiferentes, apenas passivos.

Todo homem passa por esse ciclo, Dúvida e fé, alto e baixo, existe o Relevo Espiritual na vida de qualquer Cristão, examine sua Bíblia Leitor duvidoso, e sua dúvida quanto ao que eu falo, deixa-me feliz e não quero ser dono da Razão, pois quem o é? Porém, ao meu Prisma, o que fará a diferença entre os Cristãos?

É a maneira como lidam com suas Dúvidas e seus medos. Na dependência a Deus e no arrempedimento que o tornará mais sensivel ao olhar de Deus que o tornará um vencedor até a vinda de Cristo Jesus. Todos os vencedores Bíblicos duvidaram, mas tiveram êxito na maneira como lidaram com suas dúvidas.

Siga firme com suas dúvidas, faça propósitos com Deus, queira conhece-lo, toca-lo, mais que tudo que o Senhor transformará suas mais firmes dúvidas na fé mais sólida que a Rocha. Hó Senhor ensina-nos a lidar com nossas dúvidas, e torna-nos mais sensiveis com as suas Escrituras!

POR: Jackson Poeta Aprendiz

terça-feira, 2 de junho de 2009

Loucuras sobre o Verdadeiro leitor!


Certa noite ao dobrar meus joelhos , minha petição era experiência, justamente para você amigo leitor, pego-me refletindo e perguntando-me o que faz um estudante de Literatura pensar em seu leitor, seria compatilhar experiência e afetos, porém estudando sobre o leitor ideal, belas palavras da Professora Cristiane Araújo, descobri........................

Simplesmente meu leitor ideal não EXISTE. Você, meu leitor, não existe!

O que tornou-me o Exilio literário de escritor Aprendiz? pois tão amarga notícia afastara-me das letras emanadas da minha imaginação entrelaçada com minha reflexões.
O estudo literário tornara-me mais sábio, porém tornara-me mais técnico, "seco", bem disse Manuel Bandeira: _ Desdenho àqueles que dissecam as poesias, pois essas não foram feitas para tal, mas para serem apreciadas
Simplesmente mais um insensivel, isso torna as literatura estudada e decorada, a escrita precisa ser "emanada", suave como o mel.

Porém a "reflexão" pergunta-me: para qual leitor escreves?
REspondo: Para àquele que sente sua natureza modificada e não sabe explicar a si mesmo, pois descobri que escrevo para mim mesmo, ora, qual escritor que não escreve para si mesmo? essa é uma nescessidade humana de expressar-se. Engana-se quem escreve para o "outro".

Ora, o pintor brinca com cores, o filósofo com perguntas, o poeta com figuras, mas o Escritor consigo mesmo. e que mal há nisso, Pergunto.

o ruim é quando dói.......como disse Madalena Freire, sobre o ato de Registrar!

Porém dedico-lhe meus tributos. Caro leitor inexistente... Com esta simples poesia:

Onde estas, óh manto da minha alma?
Sente e cala, és tu a imaginação?
Persegue-me e desaperece, quer ou não?
no espelho vem com branda calma
Parece-me és no olhar

hó deleita-me na cama de papel
cansadas estava quando saiu
vi-te fugir com técnicas no céu
perguntei-me onde estas? no Rio?
Parece-me és no olhar

olha, sente, disse na minha sala
parece-me então quase Vão
quero fugir, pois já se cala
A imaginação corre pelo portão
Parece-me és no olhar

Então chove pra ele é frio
descobre-se o que até fugiu
Será para ele seu espelho?
pode ser então seu cabelo
Parece me és no meu olhar

Descobre-se então o seu perdão
que´para ele se precisava ouvir
que de mim mesmo era irmão
o "eu" quero então partir
Parece me és no meu olhar

Escrevo para mim mesmo assim
aquele manto da minha alma
parece o outro, mas é "mim"
Descobrir-me, escrever com calma
Parece me és no meu olhar

Sou eu mesmo a quem devo falar
Parece me és no meu olhar!

Antes de Escrever para o outro, falar para o outro, ouvir o outro, precisamos fazer a nós mesmos e.................Principalmente antes de enxergarmos o outro, precisamos enxergar a nós mesmos, lembre-se......"leitor ideal".......Foi Jesus quem disse...

óh Senhor permitas olhar para mim mesmo. Obrigado!
POR: Jackson Poeta Aprendiz

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Por que Poeta?! Porque Aprendiz?!


Texto Escrito em 31/01/2008, olhar para trás.... o que escrevi faz enxergar-me o como sou ainda Aprendiz.......


Provérbios 16.16 "Quão melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! e quão mais excelente é adquirir a prudência do que a prata!"

Ao encontrar a sabedoria dentro da palavra de Deus, senti-me surpreendido ao contempla-la, ao vê-la como esta, permanece longe daqueles que a buscam.( Ec 1.18). Nesta jornada de busca, pelo qual todo homem se coloca a procura-la, seguindo o conselho do "Grande Rei de Israel"( Prov 4:7) encontrei muitos caminhos.

Descobri que o homem em suas diversas ciências enxerga Deus em diferentes perspectivas, isto é, as Cosmovisões são múltiplas.Estas por sua vez são distribuídas em "Religiões", "filosofias", "psicologias" e "sociologias", porém o mais interessante são as diferenças dentro da própria Bíblia. Na Torá (Pentateuco, ou Livros da Lei) o mundo é descrito como regido por uma Lei que organiza a vida com muita especificidade. O cumprimento da lei estabelece uma nítida relação de causa e efeito na interação dos homens com a naturezaMas, posteriormente o livro de Jó relata um universo em que bênçãos e maldições resultam de realidades inacessíveis aos humanos.

Jó sofre, mas nem ele nem os seus pares têm qualquer noção da trama que acontece nas dimensões espirituais. E todas as especulações sobre o porquê do seu sofrimento estavam erradas. Em um período mais tardio da cultura judaica, o livro do Eclesiastes concebe o universo totalmente contingente. No Eclesiastes, a vida é uma aventura na qual existem tempos diametralmente opostos entre si: tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de guerra e tempo de paz, tempo de nascer e tempo de morrer. Neste livro alguns acontecimentos são fortuitos, desconectado de qualquer sentido ou propósito.

E nessas divergências que muitos colocam como um obstáculo para a compreensão da Vontade de Deus, descobre-se que diferentes paradigmas tentam entrar em harmonia, há uma busca do homem pela verdade desde os primeiros "teólogos", (poderíamos criar um significado novo para esse substantivo para àquele que busca compreender a vontade do pai, conhece-lo, estuda-lo).Isto é mal? Ao meu ver não, Salomão passou sua existência conhecendo-o, Moisés ja na sua velhice descobriu que tinha ainda muito o que aprender, Paulo afirmara ser um miserável, estava ainda para obter as marcas de Cristo, e em seu Cárcere:_Quando vieres, traze os livros, principalmente os pergaminhos.

Contudo o que aprende-se com essas cosmovisões;1° O homem sempre esta a procura de Deus mesmo na Secularização do homem pós moderno.2° Podemos aprender mais quando refletimos se ha alguma relação nesses paradigmas.3° A visão do Teólogo é limitada, visto que é um homem.4° O homem aprende quando pensa, quando busca, quando entra em contato com o outro.Meu caro Irmão, sua busca não é vã, o Senhor quer lhe mostrar um universo imenso dentro das Escrituras, aprendi inumeros conceitos nessa busca desenfreada, e descobri por último que sou apenas um "Aprendiz" e você? Também é! E o Teólogo? Também !, E o filosófo? Também é! E o Pastor Conferencista? Também é! E o Pastor Presidente do Min "tal". Também é!Então..........Todos somos aprendizes, o que diferenciará um homem para o outro são os enfoques que cada um se prende, ontem aprendi que todo discursso é Introspectivo!Descobri ao lado de Jesus que sou um Aprendiz Eterno, aprendo com ele, lido com os problemas da Humanidade, antes de ser Teólogo, antes de Filósofo, antes de Poetas, somos Aprendizes.O teólogo fala sobre Deus e o tem como objeto de Estudo( Théos = Deus, Logia = Logus = Palavra = estudo), o Filósofo Fala sobre Deus e pensa sobre Deus, sobre a Metafisica e sobre a ética, será Deus nossa criação? Sua filosofia carrega toda uma história, mas......

POR: Jackson Poeta Aprendiz

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A Literatura...


"A LITERATURA persiste em traçar um panorâma da sociedade como um todo e ao mesmo tempo Expõe e Rasga máscaras de sua Face!" Elfriede Jelinek

"A Literatura não está só acompanhada pela a Reflexão mas também estão intimamente ligadas, pois apenas se cria Literatura quando nesta, antecede a Reflexão como Crítica e Espelho da sociedade a qual se insere o Individuo, tanto analizo-a formalmente, mas não consigo enxerga-la sem perceber a Religiosidade dentro de qualquer Esfera Social ou Eclesiástica, e vejo isso com Bons olhos, pois percebo que nosso problemas Reflexivos e Religiosos não são tão recentes como alguns pensam."
Jackson Poeta Aprendiz

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ensaios sobre a interioridade!


Paisagens com cupim

No canavial tudo se gasta
pelo miolo, não pela casca.
Nada ali se gasta de fora.
qual coisa que em coisa se choca.

Tudo se gasta mas de dentro:
o cupim entra os poros, lento:
e por mil túneis, mil canais,
as coisas desfia e desfaz

Por fora o manchado reboco
vai-se afrouxando, mais poroso,
enquanto desfaz-se, intestina,
o que era parede, em farinha.

E se não se gasta com choques,
mas de dentro, tampouco explode.
Tudo ali sofre a morte mansa
do que não quebra, se desmancha.

MELO NETO, João Cabral de. Poesias completas.

Cascas nada podem mostrar devido a Exterioridade as quais se Encontram, refiro-me a profundidade da ignorância humana escondida atrás de toda Religiosidade.

João Cabral, poeta de mistérios, descobrira tal enigma ao olhar às Canas dos Sertões que pintam o Nordeste Brasileiro paradoxalmente de Cinza e Preto. Àquelas que não morrem pelas mãos fatigadas dos Trabalhadores têm seus trilhos moldados pela Peste e pela Praga.

Enquanto a Casca resiste ao Sol do meio-dia, seu interior dissolve-se rumo a destruição sem nem ao menos resistir, pois tão encarecidamente aceitara seu destino de forma tão Sutil e Pacifica. Será os homens dessa forma?

Dentro destes Castelos de Concreto, olho ao meu redor e me vejo inserido nas palavras tão mágicas do poeta, exteriodade antítese da interioridade, coração de homem... só Deus compreende. Isso bem compreendeu Samuel( I Samuel 16.7). A Reflexão indaga através de sua tão íntima Amiga, a Poesia. Somos deteriorados por dentro?

Como Otelo, encurralamos-nos em perguntas que nos trazem Aflições. Pessoas mostram-se Perfeitas e Belas mas em seu interior revelam-se ao Todo-Poderoso a sua Corrupção que destroça vidas, ilude pessoas, corrompe corações, alienam-se mentes e as conduzem aos infernos Psicológicos e Espirituais.

Na conteporâneidade a instituição religiosa assemelha-se Às Canas que de tão belas e doces parecem útil a Todos mas ao tocar-lhe transformam-se em Farelos. Nosso castelos de Concreto chamado pelos
"pseudo-cristãos" de Igreja podem tornar-se em pó um dia com a vinda de Cristo, porém e as Almas? Essas são imortais. Serão as pessoas menos importante que Castelos ou Instituições?... ou Títulos? Eu vejo o meu Senhor Jesus ao lado de Pessoas, Castelos são apenas pó com "alguma" beleza aos olhos dos Religiosos(Atos 7:48,17:24).

Senhor, ensina-me a contemplar a beleza e o valor Humano na tua Casa, para que nunca possa desvalorizar uma vida em nome de qualquer Religiosidade!
POR: Jackson Poeta Aprendiz

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Religiosidade?!


No Egito, de volta ao passado


Entrei por uma porta estreita e baixa, descalcei os sapatos e vi-me cara a cara com a história. A capela esfumaçada, o chão atapetado, os pés descalços não me deixaram esquecer: eu estava no mosteiro de São Macário da Igreja Ortodoxa Copta, cerca de 150km de Cairo. Uma construção no meio do deserto. A experiência foi única. Viajei no tunel do tempo até o quarto século depois de Cristo (lembre-se, este é o vinte e um). A fumaça era incenso e meu olfato me ligava ao Divino - como cearense, gosto da idéia de “cheirar” Deus.

Acompanhado por outros pastores evangélicos, apertei a mão do monje Irineu. Um senhor de 59 anos de idade, que nunca faz a barba e que nos recebeu recoberto por um hábito preto; além do barrete preto, ele ainda usava véu. Irineu tem PHD em farmacologia. Entrou para vida monástica há mais de trinta anos e durante todo esse tempo nunca colocou os pés do lado de fora - não tem contato com o mundo, com a mídia ou com qualquer amenidade secular.

Com a missão de orar e trabalhar, Irineu cuida da impressão dos livros que seus irmão monjes escrevem sobre espiritualidade, história e teologia.

Os coptas (copta significa egípcio) acreditam ser discípulos do evangelista Marcos. O monasticismo egípcio teve origem bem antes das tradições monásticas católicas. Na época das perseguição que os cristãos sofreram na Alexandria, alguns homens entenderam que deviam preservar a fé, refugiando-se no deserto. São Macário, influenciado por Santo Antônio, por volta do ano 340 AD, assumiu a direção de um desses refúgios. Para que a fé não se corrompesse, Macário fez voto de viver em absoluta solitude (a raiz mono em monasticismo significa vida só).

Perguntei a Irineu, como era seu dia. Falando baixinho, contou que todos acordam as 4 da madrugada e oram até as seis. Tomam café da manhã em silêncio. Trabalham nas hortas, pomares e criação de ovelhas e vacas leiteiras. Almoçam em silêncio. Oram por mais duas horas. Estudam ou trabalham até às seis. Depois todos se trancam nas celas e jantam (ou não) sozinhos. No dia seguinte, a mesma rotina.

Alguns pastores que acompanhavam a visita franziram a testa. Outros se mostraram indignados com a falta de envolvimento dos monjes com as necessidades do mundo. Incenso escandalizou os mais intolerantes. Mas eu me extasiei com a visita. Como não me impressionar com uma página importante da fé cristã? O legado desses homens preservou documentos vitais; devemos a copistas, estudiosos e místicos a continuidade da mensagem de Cristo na época da corrupção dos cardeais e dos papas. Época dos pelegos da fé.

Na capela onde 49 monjes foram trucidados, lembrei-me que o ramo "protestante-fundamentalista-evangélico-pentecostal" que me formou tem pouco lastro, menos de 150 anos. O mosteiro de São Macário sobrevive há 1500.

Irineu largou emprego e família, trocou de nome, fez voto de castidade e de pobreza. Todos os dias lê a Bíblia e se coloca na brecha da intercessão, suplicando a Deus para que não deixe o mundo despencar na sarjeta. Não sei se teria coragem para fazer o mesmo, portanto, não posso criticá-lo. Na despedida, pedi que me incluisse em suas orações, pois eu é que sou miserável, cego e nu.
Publicado por Ricardo Gondim


Onde Estamos nós, dentro da religiosidade Evangélica brasileira? Onde estamos, dentro da Esfera religiosa? Cristo limita-se apenas a Nós? Senhor, ensina-nos a sua Palavra!

terça-feira, 24 de março de 2009

Quais Caminhos?


" Mesmo que muitos desacreditem em Mim, continuarei persistindo nos caminhos Literários e Filosóficos, pois essas são as minhas paixões"

Jackson Poeta Aprendiz

segunda-feira, 23 de março de 2009

O SEMPRE E O DE VEZ EM QUANDO


Outro dia alguém pinçou uma de minhas afirmações para afirmar que eu não acredito em milagres. A afirmação que fiz foi que Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. De fato, representa muito do meu pensamento: a principal obra de Deus no humano é a conformação do humano à imagem de seu Filho Jesus, que Paulo, apóstolo, chama de “primogênito entre muitos irmãos”. Mais do que fazer coisas boas para o ser humano, Deus está comprometido em transformar o ser humano, ainda que isso custe deixar ou permitir que coisas ruins aconteçam a este ser humano em processo de transformação. Deus não atua no ramo de “conforto para os fiéis”. Deus atua no ramo de transformação do humano à imagem de Jesus Cristo.

Daí a extrapolar que eu não acredito em milagres é um pulinho. Confundir a ênfase da minha teologia – “Deus faz em nós, e não necessariamente por nós”, com “Deus nunca faz nada por nós”, é até compreensível.

Na verdade, o que pretendo dizer é melhor compreendido quando se dá atenção ao “não necessariamente”: Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. Sublinhe o “não necessariamente”. Isso significa que Deus pode fazer e pode não fazer, e que o fazer ou deixar de fazer é imponderável, afetado por muitas variáveis que extrapolam o nosso controle e nosso entendimento. O que acredito, portanto, é que Deus sempre deseja fazer algo em nós, mesmo quando não faz algo por nós. Deus está sempre agindo para nossa transformação, mesmo quando não atua em nossas circunstâncias.

Por esta razão, minha conclusão é óbvia e simples: não devemos pautar nosso relacionamento com Deus na expectativa de que Ele faça algo por nós, mas na certeza de que Ele deseja fazer algo em nós. Quando Ele faz algo por nós, amém, quando não faz, amém também. O que não podemos permitir é que a expectativa de que Ele faça algo por nós nos deixe cegos ou imobilizados para o que Ele quer fazer em nós.

A maioria dos cristãos baseia seu relacionamento com Deus na dimensão “por nós”: o Deus de milagres, o Deus de poder. Alguns poucos baseiam seu relacionamento com Deus no “em nós”: o Deus de amor que nos constrange a viver para Ele e não para nós mesmos, onde viver para Ele implica sempre morrer para si mesmo, tomar a cruz e meter o pé na estrada. O milagre é problema (ou solução) de Deus. A fidelidade é problema meu. Atuar em minhas circunstâncias é o imponderável do mistério de Deus. Atuar em mim é o essencial do propósito de Deus. Você escolhe a base de sua relação com Deus: aquilo que pode acontecer ou não – o milagre, ou aquilo que certamente acontece – a transformação.
publicado por Ed René Kivitz

Senhor, conceda-me a verdadeira Razão e Essência do teu Evangelho!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Reflexões sobre uma Noite de Doutrina? Porque Doutrina?


Refiro-me a um Abençoadissimo Culto de Domingo, dia de adoração e louvor a Deus, que paradoxalmente enxerguei a religiosidade tomando conta do Homem, parei a refletir tão quanto é, e até onde vai os límites entre a igreja como Casa de Oração e como Instituição social.
Olha-se ao Redor e na parte Inferior do Templo, contempla-se pessoas pouco familiarizadas com as Escrituras e paradoxalmente na parte Superior pessoas Completamente familiarizadas com as Escrituras, o convite é aberto pelo Pastor: "Venha ao Púlpito Preleitor".

Começa então todo um jogo sociológico e psicológico. O primeiro aspecto, o sociológico advém com a palavra tão conhecidas entre nós(Evangélicos brasileiros): DOUTRINA "Conjunto de Ensinamentos". Compreende-se que se deva ter tal fundamento, que seja necessária, porém como é encarada este assunto atualmente é angustiante, dissera o preleitor que aquele domingo era o dia da doutrina.

A tradição como sempre, desde os tempos Platónicos, sempre fora louvada e aclamada, e as inovações sempre encaradas com receios, medos e aversões, aquele preleitor fez-se "defensor da verdade" àquele que fora escolhido por Deus para naquele dia falar sobre as inovações, ora, afinal de contas ele iria doutrinar à Igreja, quebrar as inovações.

Fala-se sobre todo tipo de costumes contemporâneos, todos os tipos de castigos e consequências. E se você está em uma situação desagradável seja qual for, é devido sua desobidiência. Você sabe do que estou falando, contudo coloquei-me a Refletir, senti como àquele "irmão" preso à Caverna que descobre um universo diferente e volta para informar aos outros, porém aquele grupo o rejeitou, pois trazia consigo algo inovador. Qualquer instituição social procura excluir seus integrantes quando esses quebram as suas tradições, Inconscientemente o preleitor deixa-se levar pela sua religiosidade.

Absurdo!!?? Porque?? Palavras de um aprendiz parecem em vão, mas as palavras de Jesus têm seu real valor. Perguntei-me: Onde está o Evangelho nisso tudo? Tantas pessoas que desconhecem o evangelho nesta noite e o "Preleitor-Pregador" contenta-se com doutrinas que não passam de um mecanismo sociológico de defesa institucional contra inovações, voltei me aos jovens a qual faço parte e senti-me envergonhado quando o preleitor apontou seu dedo a uns dos jovens e o tiranizou, pelo fato de usar óculos escuros e sua maneira de cumprimentar seus Irmãos, "E aí Truta".

Os mais tradicionais dizem: Deus seja louvado. Os Reflexivos, Deus tenha piedade dos jovens, Isso é Evangelho? Conjunto de doutrinas e diversificações de ministérios, ideias, líderes? Isso é instituição social, é apenas mais um grupo que mensalmente DOA Valores para manter sua manutenção e permanecer socialmente para seu grupo. Evangelho é simplesmente o "amor" incondicional a Deus e ao Homem, seu semelhante.

Os valores desde Moisés invertem-se, e a Religiosidade tem sido algo tenebroso ao homem pois transforma a INSTITUIÇÃO mais importante que o PRÓXIMO! Senhor, conceda-me a verdadeira razão do Evangelho...

sábado, 7 de março de 2009

A complicada Arte de Ver por Rubens Alves


Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...


O texto acima foi extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.


Simplesmente Fantástico, Senhor conceda-me olhos que realmente possam enxergar!!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Espiritualidade: O milagre da Simplicidade.


"Quero fazer os poemas das coisas materiais,
pois imagino que esses hão de ser
os poemas mais espirituais.
E farei os poemas do meu corpo
E do que há de mortal.
Pois acredito que eles me trarão
Os poemas da alma e da imortalidade."
E à raça humana eu digo:
-Não seja curiosa a respeito de Deus,
pois eu sou curioso sobre todas as coisas
e não sou curioso a respeito de Deus.
Não há palavra capaz de dizer
Quanto eu me sinto em paz
Perante Deus e a morte.
Escuto e vejo Deus em todos os objetos,
Embora de Deus mesmo eu não entenda
Nem um pouquinho...
Ora, quem acha que um milagre alguma coisa demais?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres...
Cada momento de luz ou de treva
É para mim um milagre,
Milagre cada polegada cúbica de espaço,
Cada metro quadrado de superfície
Da terra está cheio de milagres
E cada pedaço do seu interior
Está apinhado de milagres.
O mar é para mim um milagre sem fim:
Os peixes nadando, as pedras,
O movimento das ondas,
Os navios que vão com homens dentro
- existirão milagres mais estranhos?" (Walt Whitmann)

Os poemas mais belos são sobre coisas simples! O "Maior" Poeta opera nas coisas SIMPLES. Ele foi simples, andou com pessoas simples, caminhou em terras simples, transformou simples em especiais, quero ser simples como ti Senhor para tornar-me Especial. Tornou-se Grande porque foi pequeno, que Paradoxo! Hó Senhor quanta Religiosidade que nos afastam dessas simplicidade, nos mostrando que somos "superiores", "especiais", "escolhidos", eu não quero, quero ser como Teu Filho ou pelo menos seguir seus passos, é nesta simplicidade que quero tornar-me Filho do seu Evangelho e do seu amor.

Quem foi que disse-me o contrário, quem permanece a dizer ao contrário? Hó Senhor, afastam-nos dos "Santos" e aproxima-nos pecadores, e ensina-nos os Paradoxos do seu Evangelho, pois queremos morrer para Viver!
Quem poderá esquadrinhar seus pensamentos? hó Senhor.(Sl 18.30)
Os maiores milagre são as coisas mais simples, o que precisamos mais se Deus nos concedeu sua Graça na sua Simplicidade? Sua palavra é simplesmente perfeita( Sl 19.7).

Hó Senhor, conceda-me um Coração Grato e Simples, eis a Verdadeira "espiritualidade".